21 abril 2006

Cobardia

- Isso é cobardia! – disse-lhe ela.
- Eu sei. – consentiu ele – Mas de momento não me sinto capaz de outra atitude.

E é atrás desta cobardia que ele continua a esconder-se. Assumiu-se como um cobarde e frustrado nato e mostra uma relutância enorme em fugir a essa condição.

Por vezes entusiasma-se um pouco mais que o habitual com uma ou outra ideia nova, mas depressa desiste face à primeira adversidade (mesmo que seja apenas hipotética) e rápida e facilmente encontra uma desculpa para abandonar o novo projecto. Alguns desses desafios prolongam-se por meses ou mesmo anos e, sem lhes dar avanço, mantém-nos como prioritários, usando-os frequentemente para justificar o abandono de outros. Mas quando lhe perguntam em que estado estão os tão afamados e longos projectos, raramente tem novidades, e qual “pescadinha de rabo na boca” tira do saco uns quantos projectos novos que o têm impedido de realizar os antigos...

Há já uns quantos amigos que o vão topando, e das duas, uma: ou deixam de lhe perguntar como vão as coisas, ou se lhe perguntam, rapidamente o interrompem pois sabem de cor o tipo de resposta que ele vai usar.

- Isso é cobardia! – disse-lhe ela.
- Eu sei. – consentiu ele – Mas de momento não me sinto capaz de outra atitude. Da última vez que me fui abaixo senti-me a bater no fundo do poço. Foi muito mau... Não quero voltar a passar pelo mesmo. E por isso não me deixo entusiasmar demasiado com nada. Assim mantenho-me num patamar quase neutro, sem altos nem baixos. Pois quanto mais alto se sobe, maior é a queda, não é isso que dizem? E eu não quero voltar a cair... E o que me assusta mais não é a queda. É ter a noção que não tenho forças suficientes para me voltar a levantar!

- Isso é cobardia! – disse-lhe ela.
- Eu sei. – consentiu ele.

Sem comentários: